sexta-feira, 14 de junho de 2013

Lucidez.

Hoje fiz uma visita à minha tia mais velha que atualmente mora em um asilo. Foi a comemoração do aniversário de 81 anos dela. Numa sala espaçosa, outros cerca de 15 idosos assistiam silenciosamente à uma novela, para qual vez ou outra despertavam em um interesse real.

Embora eu já tivesse ido buscá-la algumas vezes, nunca havia subido à casa de repouso.

Adorei que, quando ao chegar, minha tia teve dificuldade para me reconhecer... ou seja, ela tinha outras coisas bem mais importantes pra pensar ou lembrar, do que ter-me na sua retina mental. Olhos cansados, olhos distantes e olhos atentos: o ambiente de lá é um farol de vida (ainda que isso soe estranho).

Entre pães, bolos e refrigerantes ouvi relatos tristes e outros esperançosos de pessoas que se sentem abandonadas. Poderia arriscar que são pessoas habituadas, mas não conformadas com a distância dos entes queridos que a elas é imposta.

Que lição de vida pode-se aprender num ambiente assim! O ar se movimenta mais lentamente, mas nem por isso menos intenso do que do lado de fora. É como ver um filme que ainda não está pronto e que todos poderemos passar futuramente (...). Sejam nossos pais, sejamos nós mesmos, como será que é a sensação de ser deixado para "terminar" longe de tudo e de todos que conhecemos e nos afeiçoamos? E para quem deixa seus parentes já cansados e às vezes doentes, lá? Como será que é?

Que oportunidade de enxergar o que realmente importa. Ao pensar que ao ouvi-los o mais atentamente possível eu estaria lhes dando algo extraordinário, fui surpreendido com a sensação de receber alguma coisa imensa, intensa e esclarecedora. Proporcional a todos aqueles anos de vida somados.

Obrigado Dona Norma, Sr. Nelson, Dona Alice, Dona Ondina, Dona Maria e todos os outros senhores e senhoras queridos que me deram uma das mais valiosas lições que um ser humano pode aprender.

2 comentários:

  1. Paulo, textos assim sãos os meu preferidos. São leves,emocionais e poéticos, sem serem prolixos. Parecem um bate papo gostoso, regado a um cafézinho preto com bolo de fubá (meu preferido). Gosto de ver gente retratada na mais pura simplicidade do existir e isso é possível por meio de textos como este.

    Ps: Textos metafóricos como outros que vc escreve tbm são bonitos, mas nem de longe emocionam como este. Parabéns garoto! Dois bjos...

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