sábado, 7 de dezembro de 2013

Sonhos

Sonhamos o tempo todo. É realmente curioso notar nossa relação dispersa com o momento e com a realidade. Arrisco-me a pensar que no máximo criamos uma relação estável com as verdades relativas nossas e do mundo.
Atualmente, ganhamos objetos que nos fazem sonhar ainda mais, compondo em frações de segundos realidades alternativas com fotos, gráficos, comentários e todo tipo de interação instantânea. 
Ou seja, seguimos dormindo! No trânsito é fácil perceber (perceber?..): parados ou em movimento nossas mentes estão quase o tempo todo longe, reconstruindo o passado ou delirando num movimento  de futuro incerto, inerte. 
A grande prova disso é que nem sequer notamos se estamos respirando ou não e que nosso olhar logo fica distante, assim que acreditamos estar prestando atenção em alguma coisa. 
É incrivelmente surpreendemente a nossa  capacidade de lidar com várias realidades paralelas e não estar em nenhuma. Revelador, porém, é descobrir que não precisamos caminhar assim. Bastamo-nos apenas com uma atenção, com um foco que, de tão rico e abrangente, coloca-nos o tempo todo em contato com a verdadeira realidade. E é tão simples que não dá pra entender porque passamos tanto tempo sem nem desconfiar. Função básica e incessantemente presente: respirar com consciência. Apenas e sempre. 
Sem descartar nada. Integrando tudo e a todos com o olhar, com a escuta, com a alegria e com a coragem. 

Quando estamos dormindo e começamos a sonhar, temos sensações, entramos em disputas, fugimos ou regozijamos. Aí acordamos (...) e pensamos que aquilo tudo acabou.
Quando sonhamos de olho aberto estamos fazendo a mesma coisa: projeções, esperanças, arrependimentos, raivas e medos que trazem consigo uma noção de solidez que igualmente ao sonho do sono não existe. Para tirar a prova, observemos que basta o celular tocar com uma mensagem do ser amado e tudo muda como num passe de mágica! Aquilo que nos afligia ou inebriava cessa por alguns instantes, misteriosamente. 
Não haveria problema se isso não nos causasse sofrimento: pequenas desatenções, pequenos acidentes, grandes desatenções e grandes descuidos com o outro, imerso nos seus tantos outros problemas e sonhos. Descuido conosco mesmo, sobretudo. 
Fortalecemos assim nossa separação com o mundo externo  e com a realidade construtiva dos fenômenos, desenvolvendo um individualismo sonolento e perigoso. Deixamos de apreciar a riqueza que é acordar e sentir tudo como uma projeção interna, inseparável do momento que estamos experimentando. 
Seja numa curva de estrada, numa discussão de trânsito ou ainda numa simples falta de percepção das nossas reais necessidades e das pessoas à nossa volta, sonhamos acordados com um mundo que não está lá e que se dá a impressão que está, acaba no mesmo instante.
Corremos desenfreados como se estivéssemos num sonho - desses que vivemos à noite, na cama, aquecidos. Não muito diferente da própria vida e da morte, usufruindo da liberdade infinita das nossas mentes. 

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