Que 2014 seja o ano em que daremos com os burros n'água!
Sim! Que o nosso planejamento não tenha sucesso e que o nosso caminho não seja reto. Que possamos olhar de um lugar considerado desconfortável e entender a transitoriedade e impermanência de tudo, absolutamente tudo o que nos cerca.
Quando estivermos imersos em sonhos de controle, de auto-aceitação e de apropriação, que a vida nos contemple com toda sua força e nos desacomode, sacuda-nos para nos mostrar que nossa liberdade começa exatamente onde está a nossa prisão, e que nossas prisões estão sutilmente (ou não) camufladas onde acreditamos estar nossas liberdades e respostas todas.
Mas se ainda assim duvidarmos, que paremos por um instante e reexaminemos nossas vidas até agora e olhemos para as nossas inseguranças, ansiedades e medos. De onde vêm eles? Repetem-se ou acontecem uma vez e desaparecem? A partir daí perguntemo-nos carinhosamente se precisamos de mais ou menos atividades para criar e manter as mesmas ilusões e seus inevitáveis sofrimentos, num ciclo interminável de uma letargia aparentemente agitada. Que sejamos capazes de nos encarar no silêncio e domarmos a força dinâmica das nossas tendências a partir da lucidez serena e imutável.
É possível que o medo se instale cobrando uma conta por serviços prestados, mostrando suas garras de suposta proteção. Aí teremos a escolha de sentirmos o seu vento e uma vez mais nos cobrirmos com orgulho e raiva, ou de agirmos na deliciosa opção do sorriso penetrante, como sorriríamos (e riríamos) de um tigre que estivesse para nos devorar, mas que estivesse se mostrando banguela na hora do bote. No máximo, oferecerá uma boa luta.
Como escreveu Gustavo Gitti, na sua coluna da revista Vida Simples deste mês: " que o nosso planejamento dê errado em 2014."
Que dar errado signifique de uma vez por todas o nosso grito de liberdade de tudo e de todos que por tempos imemoriais nos disseram o que fazer e como fazer. Que entendamos, porém, que o fizeram na intenção melhor de suas mentes condicionadas pelo desejo inconsciente de sucesso (nos outros) deles próprios e pela necessidade de adquirir segurança onde há apenas o medo de perder o controle. E que os amemos e os aceitemos incondicionalmente.
Que sejamos sábios e corajosos para encarar a subida, a simplicidade, o sorriso franco e a resposta dura. Que possamos construir sonhos conjuntos e coletivos sem a instabilidade da estabilidade e que, quando eles oscilarem, mostrem-nos toda a nossa capacidade de reivenção, de ludicidade e de amor.
Que surja, por fim, a paz que brota pura da paciência perfeita, estável e indestrutível. Sem sucesso, apenas destemida. Destemidos.